Que escritório de direito empresarial escolher: pequeno, médio, grande?

A percepção do advogado que atua em uma grande banca, o advogado que tem seu próprio escritório e o que partilha/divide as demandas na fusão com outro escritório

O exercício da profissão de advogado em direito empresarial evoluiu muito nas últimas décadas. Falo disso por experiência própria, tendo me formado em direito em 1988 e trabalhado com direito empresarial desde janeiro daquele ano.

O ideal da formação do advogado se transformou. Tanto quanto saber a lei, o advogado precisa saber resolver o problema do seu cliente. Temos mais e mais especialistas. Gosto de fazer a comparação entre o advogado e o médico. Assim como o médico, nós advogados temos que aprender e saber muito e nos manter atualizados. Assim como os médicos, há advogados que atuam em equipes e outros que atuam sozinhos. Há aqueles que preferem se manter em núcleos ultra especializados de doenças graves e outros que optam pela clínica geral. Cada um encontra o nicho em que melhor atua. Tratando-se de práticas na esfera privada, o cliente/paciente escolhe o profissional que vai procurar.

Em um mercado servido de profissionais de excelência, há uma competição natural pela preferência dos clientes. São raros os advogados de direito empresarial em cidades grandes como São Paulo que praticam sua profissão isoladamente. Os advogados se unem para trabalhar em escritórios, e os escritórios têm se transformado muito também nas últimas décadas, tendo alguns deles se transformado em empresas na prática, muito embora não sejam assim nomeados em nossa legislação.

Comecei minha carreira jurídica como estagiária. Após um ano estagiando em direito penal, percebi que o que realmente desejava era trabalhar com negócios internacionais. Estagiei em um escritório internacional, o escritório de São Paulo da firma global Baker McKenzie. Para uma estagiária filha de imigrantes que não tinha qualquer mentor advogado, foi uma oportunidade inigualável. Aprendi muito, não apenas sobre temas específicos de direito empresarial, com os advogados experientes e fantásticos que me permitiam aprender fazendo, mas também sobre como atender um cliente empresarial. Foi uma escola, e uma escola importantíssima. Crescendo profissionalmente dentro do escritório, eu mesma comecei a formar pessoas e tenho até hoje muita satisfação e orgulho dos meus muitos estagiários e jovens advogados que se tornaram profissionais maduros e muito bem-sucedidos em suas carreiras.

O escritório era grande para padrões brasileiros da época, mas cresceu ainda mais e se tornou muito grande. Foi uma vivência de 30 anos em um escritório “full service”, global, em que as novidades se apresentavam vindas de todas as partes do mundo e a interação com outros sócios e advogados era intensa. Um escritório desse porte, com centenas de advogados, tem que ser bem organizado e seguir padrões de faturamento e cobrança, contratações, remuneração de equipes etc. Assim, para o bem e para o mal, há uma estrutura mais rígida no funcionamento deste tipo de escritório, que mais se parece com uma empresa que com uma sociedade de profissionais liberais.

Depois desta longa jornada no grande escritório, adquiri e passei a carregar comigo uma enorme bagagem profissional. Fundei meu próprio escritório, bem pequeno, o Flesch Advogados. Começamos com uma equipe composta por dois advogados e uma secretária e fomos crescendo, era tudo muito diferente do que eu tinha me acostumado a ter como espaço de trabalho. Para os clientes, entregamos os mesmos resultados e com uma dedicação ainda mais focada. A experiência do escritório “boutique” foi também muito interessante. O escritório cresceu organicamente e os casos foram ficando grandes a ponto de precisarmos fazer parcerias para poder atender os clientes com as outras especialidades que não tínhamos no escritório.

Recentemente, surgiu o convite para trazer todo o meu escritório boutique para se integrar e fundir com o escritório Miguel Neto Advogados. Um escritório de porte médio, com nove sócios e suas respectivas equipes, que atende os clientes de forma abrangente e com maior agilidade, sem as travas burocráticas de uma estrutura gigante, mas também com suas dores de crescimento. A sinergia entre os sócios funciona muito bem e todos trazem experiências de contextos muito úteis para a entrega da solução ao cliente. Os advogados são todos dedicadíssimos e de primeira linha, e o tamanho médio permite uma abordagem mais pessoal no trabalho das equipes.

As três formas de trabalhar em escritório são muito interessantes e tem seus prós e contras!

Então me perguntam: o que é melhor? Um escritório grande, médio ou pequeno? E quem me pergunta isso são estudantes pensando em um estágio, advogados pensando em como dar seus próximos passos na carreira e potenciais clientes, que querem saber onde serão bem atendidos. A resposta é aquela que todo advogado sabe que é a melhor: DEPENDE! Depende de vários fatores específicos, mas certamente os três modelos têm seu público-alvo ideal.

Esther Miriam Flesch é graduada em direito pela Universidade de São Paulo, possui um mestrado feito na University of Michigan Law School, além de um doutorado também feito na Universidade de São Paulo. Esther foi eleita como Mais Admirada no ANÁLISE ADVOCACIA em oito oportunidades.


Publicado em Análise Editorial.

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